sobre as estátuas e poemas que falsifiquei

 

É difícil mentir sobre si mesmo, e por isso os poucos que o fazem direito acumulam riqueza ou poder sobre multidões. A maioria das pessoas se iludem, acham que convencem, mas qualquer observador atento percebe as olheiras, cicatrizes e dívidas por trás de todo otimismo, fé religiosa e frases de autoajuda. Nenhum sobrevive sem desabar numa sessão de psicoterapia, afinal, só se pode ser o que a vida, ou melhor, o que as circunstâncias permitem. Bons mentirosos têm em comum com os bons escritores a capacidade de criar mundos, de falsificar a realidade, por isso penso que ambos poderiam conduzir uma oficina de escrita criativa com a mesma destreza. Stephen King e Frank W. Abagnale Jr. estão no mesmo patamar, um pouco acima de nós mortais, já que bem ou mal se tornaram notáveis pela ficção. E talvez seja isso que me faltou, por mais que eu escreva eu troco os pés pelas mãos e tropeço. Não sou convincente. Eu sou a mesma coisa o tempo todo e a maioria de vocês também. Ainda que eu atuasse só sairia “eu”, e isso não é bem uma peça que todo mundo quer ver. Acho que foi Drummond ou Ferreira-Gullar quem disse que os poetas são todos mentirosos, não sei. Diria que todos somos mentirosos, o difícil é fazer bem. Alguns só vão ser bons em tropeçar, e dói.

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