a vida que continua depois do fim do mundo

 

O dia estava quente, quase tanto como agora. Niméia passou os dias pintando alguma coisa. Sei porque me pediu algumas tintas e um pincel emprestados. Nunca me dediquei suficientemente a pintura, e mesmo nos piores anos da peste, quando nem o sol parecia clarear os dias, tive o ânimo ou organização para colocar o desespero na tela. Niméia me parece o oposto, o tipo de pessoa que transforma qualquer emoção em algo exterior, seja um gesto ou um retrato. Queria ter esse dom, mas estou velho demais até para fotografar nuvens. Karina me pediu ajuda para empilhar alguns troncos, não sei porque as pessoas me acham forte. Com o serviço quase acabado a Níméia apareceu do nada, quase como um fantasma, com uma pintura de um estranho cachorro fumante em mãos. Mal tinha secado. Terminamos de empilhar os troncos e sentamos os três para tomar um café. Três histórias distintas que se seguem. O mundo é vivo, respira. 

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