ser um acidente de percurso quase nada acidental

 


Hoje me saltou a memória um Josué de 2004, deitado numa cama bagunçada em um quarto sem porta, pensando em se matar ao som de Smiths num mp4 player que ganhou de aniversário. Não tinha tantas preocupações, mas já era cheio de tristezas, e talvez fossem essas tristezas que me enchessem de uma coragem ingênua e suicida de atravessar o rio Araçuaí numa boia preta remendada, mesmo sem nunca ter aprendido a nadar. Até hoje faço algumas coisas antes mesmo de ter aprendido o básico. Bem raramente eu acerto.

Salto para uma lembrança de 2012, em que encontro Lorena numa praça e lhe entrego algumas folhas A4, ela tinha olhos entusiasmados que passou para Penélope, sua filha. Lembro de um dia com Letícia numa pizzaria falando bobagem, acho que foi nesse ano que aprendi a ter menos medo de gente e até hoje repito passos e trejeitos que aprendi nas minhas longas discussões com a Amanda. Direta ou indiretamente, tudo de útil que sei aprendi com uma pessoa que nem sabe que me ensinou alguma coisa. Lembro como se fosse ontem da minha Mãe me ensinando a cozinhar por telefone uns dois meses depois que cheguei em Montes Claros. Lembro da infelicidade constante na sala de aula durante o curso de psicologia, mas de uma alegria tremenda pelas pessoas que conheci, os risos que tive, os exageros e tudo o mais.

Algumas até ficaram e poderia chamar para perguntar sobre a vida agora mesmo, se quisesse. Me tornei um homem simples com que as pessoas amadas podem contar, ainda sou muito triste, mas já fechei quase todos os buracos do meu coração, alguns abertos ainda quando planejava coisas que davam errado com a Thaís e a Mariana. Existiram suavidades no meio de tanto caos, suavidades essas que quase sempre ficam de fora dos romances e dramas russos, franceses e alemães que cresci me obrigando a leitura. No samba de morro eles nunca faltaram, nas porcarias que eu escrevia para controlar o desejo de morte também. De uma perspectiva meio adoecida, até que fui otimista, cheguei mais longe do que esperava e tenho a consciência limpa de que nenhum dos meus muitos erros foram propositais.

Não sou bom em pensar no futuro, não entendo bem o conceito de felicidade, mas para as pessoas queridas que seguem na minha vida apesar de não ser mais útil, amo todos vocês e espero sempre poder inventar um tempo em que possamos tomar um café juntos e sentar num banco de praça ou numa calçada. Não quero amor que se sustente em nostalgia, apenas. Aprendi bastante olhando para um ninho de pássaros.

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