um vazio
Houve um tempo em que fui simples. Acordava cedo, passava um café sem açúcar, mantinha a casa limpa e caminhava religiosamente todos os dias, não comia arroz e nem tomava refrigerante, passeava com a cachorra como um tipo de pai responsável e olhava com orgulho os ótimos resultados dos meus exames. Ali, naqueles poucos dias fui um homem feliz e sem pretensões, um homem simples do interior e mais nada. Não durou nada mas até que durou. Até que veio a obrigação, a depressão, o hedonismo autodestrutivo, o trabalho e a velha sensação. Vieram os novos remédios, o outro diagnóstico e muito depois veio a pandemia em que tudo degringolou. Mas não, esse não é um texto de lamento, afinal, me sinto estatisticamente melhor, mais adulto e capaz. Então porque diabos o vazio existe, indagam? Ou melhor dizendo, persiste. A resposta é niilista e simples, o vazio existe e o vazio faz parte. E as vezes não existe nada além desse velho vazio. O vazio também sou eu.

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