no café da manhã
As vezes acordo bem disposto. É raro. Tanto que nem me reconheço. Acordo cedo, passo o café, faço faxina, lavo o banheiro, dou banho as cachorras, faço um almoço gostoso e até rebolo a bunda entre tarefa e outra ao som de Banda Black Rio ou mesmo James Brown. Mas eu não me sinto feliz, já nem acredito em felicidade. Eu acredito em orgasmo, nos instantes de contentamento, em boas amizades, minha família, os autores que ajudaram a construir quem sou e, principalmente, acredito nesses fármacos. Ainda assim, sem espaço para felicidade. É que na maior parte do tempo eu estou nada, e quando não estou nada eu estou triste. Tenho uma amiga montesclarense que disse que isso que é felicidade, e que não é nada especial. Eu tento acreditar. Eu juro. Mas não sou bom crente, eu sou ateu com a vida. Eu sou niilista. E quanto mais energia mais eu converso sozinho. Passei outro café. Acabou o funk, agora toca Omerta do Katatonia. Derrubei um livro, ironicamente era um Nietzsche, “O crepúsculo dos ídolos”. Minha Mãe diz que nada na vida ocorre por acaso, já eu, prepotente e incrédulo, prefiro acreditar que todas as coisas significativas acontecem sem querer. E que tudo que fazemos de grande é na verdade o que a gente nem sabia que iria ou queria fazer. Fazer amigos, comprar um livro, escrever um texto, rir de um tombo ou de um fim, assistir um filme, jogar um joguinho, um flerte ou etc. Tem dias em que acordo cheio de sentido. Pareço até um Albert Camus.
Comentários
Postar um comentário