uma coisinha só

Bastou um golpe e não havia mais um homem. O que viam ali agora era uma coisa estendida no chão. Parecia um pedaço de carne imprópria para o consumo, uma imagem tão patética que não houve nem a comemoração de uma vitória. Verdade é que nunca fui um bom lutador e nem sei como terminei ali. As batalhas qu travei foram por pura necessidade, falta de dinheiro, medo da fome, nunca tive um pingo de coragem, só um excesso de circunstância. Lembro que desde menino me incomodava o quanto o ser humano tem medo de ser coisa. A gente até criou conceitos para tentar anular isso, essa possibilidade. Então vemos que "eu", "indivíduo", "consciência", "povo", "sociedade", todos são uma tentativa desesperada de nos salvarmos da condição de coisa, de objeto deixado de lado. Exatamente feito eu, ali, jogado no chão, sorrindo sem conseguir me levantar, acostumado em ser o perdedor.