trinta e dois


Vivi muito mais do que acreditei que viveria. Fiz mais amigos, senti, desejei e aprendi mais coisas do que meus traumas e classe social sugeriam. Ademais, não sei o que fazer com a vida. Nunca consegui enxergar muito adiante e ter aqueles planos de gente normal e mentalmente mais organizada. Eu gosto é de passar meu café e ficar horas olhando o céu enquanto os afazeres ficam um pouco de lado. Sou sério, obsessivo e concentrado com pouquíssimas coisas que nunca perpassaram sobre sucesso ou riqueza. Completei mais de três décadas e ainda não sei ser plenamente profissional para ganhar dinheiro. Talvez nunca seja, aliás. O que sou bom é em acumular informações inúteis que por alguma razão me dão muito sentido. Tenho 32 anos e minhas ambições ainda são as mesmas do Josué menino: sobreviver para ouvir discos novos, ver desenhos e rir de tombo e piada idiota. E talvez seja por isso que tenha sobrevivido tanto tempo, por não ser útil para a sociedade, aprendi a ser útil para mim e a dedicar muito em pequenezas que passam desapercebidas, mas que de certa forma são o que justificam minha vida. Gosto de ver as pessoas que amo crescendo, sorrindo. Gosto de abraçar minhas cachorras e de ficar obcecado em desmontar meu celular só para ver se consigo fazer funcionar de novo. Eu não sirvo para nada, mas é bom não servir. Meu coração é anarquista e não importa o quão horríveis sejam os dias, consigo um pingo de felicidade comendo um docinho, rindo com um amigo ou tomando meu café. Talvez eu nunca descubra o que quero fazer com minha vida, talvez eu sempre carregue essa desconfiança e desejo de desaparecer, mas enquanto eu puder ser bobo sem culpa, até o meu lado mais objetivo e racional me diz que as coisas podem ficar bem, ainda que apenas num daqueles rabiscos toscos que vez ou outra coloco num papel.

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