sobre estar pleno


Não existe um caminho feliz, uma jornada correta, existe apenas caminho. O que chamamos felicidade é uma quimera abjeta, expectativa vazia, crendice. É o tipo de estória que as mães contam quando estamos tristes, mas que insistimos em abraçar depois de adultos. Talvez por medo. O fato trágico é que o indivíduo pleno e feliz é impossível pelo simples motivo de ser sempre improvável. Satisfação e insatisfação, apesar de antagônicas, caminham juntas, de mãos dadas, são irmãs. Comprar o seu sorvete preferido não te impede de tropeçar logo em seguida. Ter o melhor sexo em anos não te torna imune a contrair dst's. Sentir o amor de um deus suposto não te impede de descobrir um câncer, assim como descobrir um câncer não te impede de rir de uma esquete do Monty Python, de ter sexo bom, de amar os amigos e ou desejar conhecer Machu Pichu. Seus males e também suas glórias são insuficientes para te definirem por completo. No fim das contas, bem e mal são constantes e vai se sentir realizado na medida em que chutar a calçada pode estragar seu dia. E é esse o ponto em que as nossas fábulas não nos salvam das consequências dos nossos atos e mesmo de eventos do acaso. Por isso estamos aqui, e é percebendo-as e enfrentando-as que adquirimos a chance de poder evitar - e evitar a dor pode ser sim uma forma de aumentar o prazer. Não podemos ignorar que a vida é orgânica e material, que ela apenas acontece.

Comentários

Postagens mais visitadas