programação neuro niilística


A vida é procedural, acho, como em linguagem de programação. Convenhamos que eu quase sempre tenha sido chato, é até natural dos neurodiversos, mas insensível eu nunca pude ser. Meu primeiro emprego longo foi aos 27 anos de vida, meu primeiro namoro longo ainda não aparece nem nos meus vislumbres de horizonte mental, meus primeiros amigos vieram muito cedo, é verdade, mas os amigos, os amigos mesmo, estes poucos eu estou conversando com eles agora. Levei uma vida errática, mas não por opção. Presto mais atenção nas estrelas no céu e nos insetos na rua que na minha árvore genealógica e circulo familiar. Esqueço meus tios, meus primos, esqueço meus vizinhos, mesmo assim ainda me lembro de todas as coisas boas e ruins que me foram ditas nos últimos vinte e dois anos. Mas não guardo rancor, eu guardo memória. E no meio desse pensamento, ora lento e ora acelerado, que quase sempre me sufoca, no meio desse pensamento eu recorro a meu banco de dados pessoal que me convence a não me autodepreciar. A não fazer odes a tristeza, a dizer que sim, amigos, estou sozinho e com muitas saudades, mas que hoje eu me sinto querido, apesar de tudo. E que hoje eu me sinto um pouquinho bonito, mesmo que seja assim, quase nada, um pingo de tinta marrom numa tela inteiramente preta. Estou a beira dos trinta e tem sido um desafio lidar com isso. Mas eu preciso dos meus risos e da minha esquisitice para me sentir alguém, e convenhamos, só há um de mim e eu prefiro ver todos vocês assim. Estrelas. Que eu olho todos os dias da minha vida. Ainda que as vezes eu tenha um problema imenso quanto a atribuir valor. Eu sinto fome de cheiros e sinto cheiro de abraços. Por isso a vida é procedural, como em linguagem de programação que especifica os passos que um programa deve seguir para alcançar um estado desejado. Essas coisas todas que a gente atribui.

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