sangue lavrado


morre o meu verso
pobre diabo
rindo na alcova
e eu mesmo me despeço
da tristeza nua
que antes fiz minha esposa
e que agora, desposado
te faço amante antiga, memória
feito bolero, canção triste
dos tenros tempos em que nem existia.
ah, meu verso
por que morres?
carece de um uísque?
de beijos molhados?
corpos quentes, vulvas?
é um samba novo ou
só teme a felicidade?
ah, a idade
a idade pesa, e hoje o que era
de indas e vindas ao goticismo,
padece na mesma era em
que me vejo num outro
um homem maior, bem maior
mas não em peso ou largura
que o corpo revela,
em intelecto ou em dor
tal como um Dostoiévski,
mas um homem maior
maior que a própria vida?
um homem-multidão!
de um só coração, querida
que é maior ainda.

[espirituoso, mas
ainda sem sorte]

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