divagações bêbadas #1

Se hoje o meu terapeuta questionasse sobre o maior sonho em minha vida, responderia, sem relutar, que sonho todos os dias com um corpo imortal. Com a possibilidade de transcender minha consciência além dessa carne, de talvez alcançar dimensões desconhecidas espaço adentro para poder sanar, ainda que de forma egoísta, as curiosidades mais bobas que a curta vida humana não nos permite viver. E penso que aqui, numa hipótese de diálogo, resida a diferença significativa entre o bom e o mau terapeuta. 

O mau terapeuta arregalaria os olhos, no mínimo faria a famosa “cara de porta”, interpretaria cada palavra como um delírio megalomaníaco associado a um fenômeno de despersonalização, talvez me consideraria incapaz de lidar com a realidade, com atraso cognitivo ou infantilidade. Já o bom terapeuta, de ouvidos atentos e descrente com a própria intuição, entenderia que os sonhos, obviamente, não residem no campo do real, ou são desejos, sobras, ou mera especulação. Procuraria sobre o assunto, no google ou numa biblioteca, e daria de cara com o transhumanismo como uma proposta, uma discussão filosófica real. 

Qual o meu ponto? Enfim, há quem escute o que quer e há quem escute de verdade. O segundo, penso eu, é indissociável da curiosidade, talvez a maior virtude para o progresso intelectual. Uma bem maior e, no momento, melhor e mais factível que qualquer corpo de lata imortal. Mas seriam os corpos de lata indissociáveis do mundo real? Cabe uma reflexão.

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