tanta lagrima, tanta lagrima y yo soy un vaso vacío

o problema era o vício em tristeza, a comodidade com o sofrimento, e todos me diziam isso com extrema convicção. a quase namorada, o quase terapeuta, os pretensos amigos e até o carteiro, aquele desgraçado. e isso me fazia sofrer, e me fazia trocar os pés pelas mãos, afastar pessoas, sentir culpa, apagar o cigarro na própria pele. verdade é que eu não sabia viver de outra forma, não sabia sobreviver me sentindo bem, então quando a felicidade veio a primeira coisa que fiz foi me trancar no quarto, longe dela, longe dos amigos e até da cerveja. eu só conhecia a parte que doía por dentro, a piada que faz rir por pena, o poema ruim dos quase poetas. só que que agora que estou morto vejo que posso colocar qualquer coisa que eu quiser. meu coração agora é uma caixa vazia, uma folha em branco num caderno sem desenho na capa. e sinto que aqui eu posso guardar qualquer coisa, mesmo um sorriso banal, um abraço apertado, esses versos tortos, uma bíblia queimada ou a satisfação mínima. pois ainda não aprendi a viver direito, se é que isso existe, mas agora que eu matei tudo que sangrava, o que sobra é terreno fértil para que nasça coisa nova. é o meu presente de grego as vésperas dos vinte e seis, o que bate dentro de mim, como se aquele vício em tristeza também servisse de adubo. e de terra adubada nasce erva daninha e trepadeira, mas com sorte ou um bom jardineiro, nessa terra vermelha também nasce flor. e ninguém diz nada.

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