desamparo.doc

queria não ser dessa gente trouxa, que chora com música triste, bebe cerveja barata e se identifica, hora é belchior, outra é elliott smith. quem dera ser essa gente de versinho besta, amor tranquilo onde bastasse só um riso procê cair na minha cama, mulher. pra eu pegar um violão e inventar cantiga pra morena, pra nunca precisar ficar aqui sozinho devaneando corpo seu, mulher. 
ainda que eu nem suportaria. eu fico triste mesmo com alegria, como peso de quem briga consigo pra acreditar que merece, ainda que essa vida desgraçada não dependa de meritocracia. a gente só é o que pode ser, josué. dizia mamãe quando eu sonhava ser astronauta. a gente só é o que finge, josué. dizia minha coordenadora me ensinando a psicologizar. 
queria não ser tão deslocado, meio autista - diziam em tom pejorativo. nem precisava saber sambar, voar, ser campeão no futebol. queria mesmo é ter um chão, um corpo quente, uma alma inquieta pra eu poder compartilhar. tão somente. 

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