azedume / café demais
a vida crua, como ela é, cheia de devaneios, tédios, prazeres fúteis, céu azul e amor. a vida de canções tristes, carnavais felizes, glórias pequenas de conquistadores cansados. uma moça que pulou de um prédio tentando capturar pokémons em um aplicativo no celular; um gordo que reclama um amor não correspondido; uma moça de dentes brancos que flerta com o rapaz que a denuncia; uma pequena notável, de olhos firmes e coração gigante, canta com gatos e luta por justiça; a viatura da polícia; eu dando um passo para trás para depois caminhar dez passos para frente. o eterno retorno de quem cita nietzsche, drummond, lispector; a gente que cita skinner, freud, carl rogers; o plágio na consciência, o peso da memória aflita, a felicidade ansiosa de quem já não flerta. o verso corrido, a urgência desmedida, o sangue derramado, o perdão inútil, minha xícara de café e dois maços de cigarro vazios. eu que não me arrependo, eu que não me surpreendo, esse quarto que já não me cabe. são todos detalhes, somos todos detalhes. a gente é gente, e sangra, e goza, e ama, e as casas amarelas de cerca branca, o fusca azul que cruza meu caminho, eu que me sinto sozinho ainda estando acompanhado. essa glória tola que me deixa satisfeito, esse riso contido no peito, essa dor se cala, e os dedos param, e a luz acaba. ninguém pode me roubar de mim, nem de todo mundo. só. com letras minúsculas e nenhuma devoção. essa servidão nunca me serviu, feito posia ruim.

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