uma gnose ateísta


acorda cedo, lava o rosto
o homem relógio tem tarefas a cumprir
é um cuckoo mudo quem dita o ponteiro
enquanto a minha vó passa um café preto
e eu aguardo que atirem um jornal pela janela
o teletransporte trouxe de volta a mídia impressa
afinal de contas, aquelas telas falantes vigiavam demais

o homem relógio conta as horas até sua morte
e vai economizando minutos a cada cem horas trabalhadas
uma velha recolhe o seu cão morto da mesa
e todos reclamam do que deveria ou não ser nosso almoço
eu só consigo pensar no momento em que acordo só

amanhã sou eu dando migalhas aos patos
amanhã sou eu tirando férias dos meus pulmões
amanhã é o homem relógio quem passa o café
e minha vó ficou para ontem, feito cuckoo ultrapassado
e o abstrato de moda virou crueldade

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