um texto que escrevi num pós-terapia

 

No começo não fiz muito além de olhar para o céu, mas quando aprendi a me mover, tudo o que fiz foi cair. Mas também, girava feito peão descontrolado e assim não há quem fique de pé. Talvez por isso a minha familiaridade com o chão; passei tanto tempo deitado, caído, que sei de antemão que poços-sem-fundo na verdade tem fundos infinitos e não há nada ruim que não possa piorar. Me sinto meio Sísifo e há um pingo de orgulho disso, de me sentir até bem ao constatar que estou aqui apesar do pior cenário possível. Se bobear é isso que me impede de querer ser outro e me amaldiçoar no caminho. Deixei de tentar não-ser aos quinze anos de idade e sigo sendo até os dias de hoje. É um ser-apesar? Sim, mas não gosto de soar feito psicanalista. Eu gosto de soar “eu”, ainda que sozinho. Sou um só.

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