um desencontro caro
Levei Júlia num restaurante novo que surgiu na cidade, tudo bem decorado, pinturas supostamente sofisticadas espalhadas pelas paredes, talheres finíssimos, mas uma comida horrível. Não sei o problema dos ricos com tempero e a necessidade de as coisas não terem gosto. No passado os ricos colonizadores extinguiram civilizações inteiras por causa das especiarias para que hoje eles as utilizem com uma cautela inglesa - sendo que a Inglaterra nunca foi famosa por sua culinária. Mas enfim, diferente de mim a Júlia pareceu se deliciar e até me contou causos e estórias sobre seu período na França entre uma garfada e outra. Coisas sobre museus; Serge Gainsbourg; cinema impressionista; restaurantes com muitas Estrelas Michelin; ter lido Sartre, Lacan, Camus e Beauvoir no idioma original; e longos passeios pela Avenue des Champs-Élysées. Quanto mais ela falava mais o garçom voltava a encher minhas taças de vinho. A embriaguez é a única saída para o pobre que precisa impressionar, ainda que nada disso tenha impressionado coisa alguma. Fomos embora sem um beijo sequer, e ali naquela mesa se foram dois meses de trabalho para uma dor de barriga que sequer valeu a pena.

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