uma manhã de uma vida atípica

 

Cheguei na padaria as 7 e a encontrei arrumando os cabelos e a máscara. Lembro que uma vez falamos sobre amores do passado, um papo incomum para completos estranhos. Ela sempre tenta me convencer a comprar sonhos, mesmo dos que não gosto. Diz que é bom experimentar coisas diferentes. Sempre que ouço isso de alguém fico com medo das pessoas normais andarem transando com bodes, sei lá. Chego no trabalho e minha sala fede a tinta, minha cabeça dói quase que instantaneamente. Lá fora, longe, num mundo civilizado, pessoas já podem correr sem suas máscaras. Não sei quando vou ver meus amigos, não sei se vão me deixar sair de férias. Queria voltar para Montes Claros, em outras horas queria viver em São Paulo, Belo Horizonte ou até Florianópolis. Não vivo em lugar algum que não seja preso dentro da minha cabeça. Voltei a falar com uma velha amiga. A moça da mercearia está me cobrando uma dívida. Minhas cachorras estão engordando. Não sei se sou um bom exemplo para alguém e acho que a ritalina me deixou acelerado. Parece cocaína mas também não é tristeza. Sei lá, eu continuo preocupado com o preço do gás. Mas que horas é o almoço?

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