outro pequeno conto no final do mundo

Moebius, A Steampunk Opera


Toca o despertador, Niméia acordou assustada, cresceu com a ideia de que hospital significava morte e por isso relutava em ir as consultas. Suava frio. Tinha dificuldades em acreditar na cura, mas nunca desapegou dos conselhos dos pais adotivos que sempre diziam que ciência não é uma questão de crença ou descrença, mas de resultado e ele vem com tempo, investimento e muita dedicação. Do lado de fora as pessoas já voltavam as ruas, os sorrisos já eram frequentes em alguns rostos, os prédios abandonados voltavam a ser ocupados e não havia mais o cheiro ruim. A solidão voltava aos poucos ao seu lugar de opção e não de medida impositiva de contenção pandêmica. Pensei em retomar o meu trabalho anterior, mas não sei se na ausência de caos as pessoas vão procurar um terapeuta. Talvez sim, já que o ser humano nunca foi hábil em lidar com paz e felicidade. Evoluímos em um ambiente hostil que nos moldou a hostilidade, tanto que fizemos o mesmo com nossas máquinas, companheiros autômatos nos longos anos em isolamento. Lembro que quando adquiri o B5XM18 ainda não conhecia Niméia, não havíamos trocado áudios logo após um debate sobre sobrevivência num fórum do Reddit. A máquina era a única voz além da minha que ecoava naquela pequena casa na rua das constelações. A cidade de Boa Morte parecia um presságio, talvez por isso foi onde escolhi me isolar. Um pequeno sorriso toma meu rosto – espero viver mais um pouco e presenciar o que será do mundo daqui pra frente. A vida segue imparável.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas