sentimentos que flutuam

Edward Hopper, Pennsylvania Coal Town, 1947.

Ainda me lembro de todas as cartas imaginárias que pensei em colocar no papel para os meus amores passados. Não o fiz, mas também não me arrependo. Eu gosto de viver com meus segredos, meus silêncios, minha sombra que vez ou outra cresce. Mas agora, depois da última estação em que meu coração secou, já não sinto encanto por nenhum sorriso de moça bonita ou ombros largos de rapaz gentil,  isso me causa a nostalgia. É estranho pensar e sentir falta das coisas que não deram certo, dos planos que não conclui, das ideias e poemas que nunca tive coragem de colocar num papel. Sou inegavelmente covarde, fui, sou inegavelmente humano. E o que me resta deste disparate é a consciência de ter feito o melhor daqui de dentro desse bunker que chamamos indivíduo, ou coração. Essa ideia boba e abstrata dando outra função a um órgão de bombear sangue ou a identidade de um corpo-para-a-morte. Que apesar de tudo são alegorias nobres. Do tipo que evoca um sentimento bom e ruim, o desassossego que proporciona, o qualquer coisa que nos faz tão vazios e também tão contentes.

O amor é um cofre remendado guardando expectativa e também frustração. É um copo de leite.

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