um mundo inteiro num recipiente só
Nunca estive filiado a coisa
alguma. Ideologia, clube, time de futebol, partido, classe profissional,
família, banda, amigos de infância, ódio, amor, favoritismos ou antipatia. Nunca
tive devoção. E diziam que isso me fazia vazio, que faltava sentimento de
pertença, que eu precisava de um lugar. Ok, compreendo e respeito a ideia. Mas
penso que o que me tornava vazio era o sentimento de pertencer a tanta coisa
que muito ou nada tinha a ver comigo. Me sentia sempre alheio, estrangeiro,
esquisito, absorvia o que diziam de mim, e não necessariamente estão
incorretos, por isso pesava. Sabe, quando você não se encaixa em lugar algum, é
fora deles que é o seu lugar. Pois mesmo quando dizem que você pertence ao
vazio, esse vazio se torna um lugar, e geralmente esse lugar é você mesmo. É
você tendo controle de si, é você vivendo a própria vida. E o verdadeiro vazio,
aquele que não é somente símbolo, esse vazio vem de viver rodeado de gente que até
fala bastante em amor, mas que no primeiro deslize te condena ao inferno. E por
isso a gente acaba só. É que as vezes tem gente demais para que qualquer coisa
dê em samba, e outras vezes o melhor samba a gente vai compor sozinho. Sem
ninguém a atrapalhar.
Aqui em casa todo mundo vive
sozinho, e só se abraça para que isso nem sempre seja solidão.

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