poema de seiscentos e sessenta e seis faces
Quando nasci, um diabo tonto
desses que vivem no meio da gente
disse: Vai, Josué! ser gauche na vida.
Primeiro entendi errado e tentei ser Drummond
Falhando no processo, tentei ser Camus
já quis ser Sócrates, Bowie, Nina Simone e até Miles Davis
No fim do dia não fui nada
Nada que não seja eu - gauche
Esquisito e fabulante
De coração bobo e miserável
Como os dez livros que não publicarei
O mestrado adiado
Os amores de quem fugi
Essas lágrimas que verso
Pobre diabo de mim
Quase um tadinho
desses jogando versinhos
Mas agora só tento ser eu
Eu, miserável, invejando Pessoa
pessoas na rua, branquelas peitudas
Suores, desejos, nada me basta
Talvez um café
Estou essa coisa abjeta, incompleta
Meu Deus, como é bom e ruim desejar
Ainda que seja nada
e que não tenha religião
Meu Deus
Rejeito a morte que dança
essas coisas meio jazz e samba rock
se é que isso existe
E viverei uns cem anos
seguindo
Todo destrambelhado
desde que a morte me deixe
E só
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