dia internacional do café

Vi uma menina esquisita de olhar triste, vestido amarelo, me fez lembrar com nostalgia das pessoas que matei em pensamento. É que viver não é poético, é quase sempre desastroso, uma sucessão de percalços bestas, uma veia pulsante de fracassos – vai lá e bate o dedo na quina da mesa e já pensa em se suicidar. Depois do gole de café veio um risinho honesto de canto de boca, gosto de lembrar com carinho das muitas agruras que atravessei sem deixar meu eu pelo caminho. Tudo bem que é só um “euzinho” que não vale de nada, mas vou levar até que me sobre apenas o pó nos ossos após um inverno nuclear. O fim da humanidade vai ser um fim de novela do globo, o orçamento é todo gasto nuns pouco salários e o efeito especial mais importante acaba sendo uma bosta. Vai entender esses desígnios cristãos do capital? Se a carne for preta não vale nada, se for socialmente esquisito não arruma emprego. Rezo para que a menina esquisita não conheça o desânimo, amante ingrato e beberrão. É preciso ter um riso animado, ainda que quase nunca ou de vez em quando, para suportar as regras de um mundo que foi feito a imagem e semelhança de um Deus que parece com todo mundo, menos com você. Mas se eu também sou assim, ambos não estamos sozinhos, basta seguir pelo caminho até esbarrar com alguém que esteja perdido de um jeito parecido com o seu. Gente de riso besta de canto de boca com felicidade genuína, dessas que duram um instante que é em si mesmo uma outra vida, curtinha, só que sem as mesmas tragédias.

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