plantei os cactus que roubei numa encosta enquanto caminhava


Espalhei minhas cinzas pela Praça da Sé. Pichei A's cortados num círculo em todos os muros de Belo Horizonte. Jurei amor de dedos cruzados. Pintei todas as figuras opacas que saltaram em minha mente. Dormi feliz e acordei chorando. Matei meu eu-lírico com a mesma idade que Cristo. Não voltei após três dias, mas cinco anos atrás me parecem ontem. Dancei na chuva que caiu na Praça Sete. Menti para estranhos nas calçadas de São Paulo. Me vendi barato ao Deus de todos os nécios e prostitutas do Bom Retiro. Rolei abaixo todos os Montes Claros. Bebi da lama mais vermelha pensando ser sangue. Sangrei nos parachoques que o Diabo amassou. Tirei minha vida mas foi só em sonho. Escrevi as palavras mais tristes sobre um dia feliz. Cavalguei feito bêbado num navio de pieguices. Sequer fiz sentido, sequer senti nada e sinto tanto por isso. Espalhei meu gozo nos lençóis sujos de uma igreja triste. Bati palmas para a felicidade como se fosse o fim de um casamento entre jovens. Faltei à missa. Bebi um café. Olhei para o resto e misturei ao leite. Espiei donzelas que se banhavam. Inventei homens para uma história absurda como em Indiana Jones. Chorei com uma canção na voz da Billie Holiday. Dei banho em cães e esqueci de me lavar. Prometi melhorar e comprei remédios. Danceu um forró sozinho com meu fantasma querido. Comprei brinquedos. Despi-me ao acaso, impúdico, niilista, feio, imoral. Fiz falsas promessas que não alcançarei. Fui inteligente na composição do meu impostor. Inventei palavras e briguei com a sorte. Escalei seios que mais pareciam montes, fotografei montes que mais pareciam seios. Fiz falos de argila em aulas de religião. Cantei um só desafinado. Pintei quadros feios e não escondi dos outros. Agora estou aqui, José. Mas José, o que mais será?

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