uma nota fria para o final de um ano ruim


Me perdi nos passos do relógio e sua monotonia rotineira. Um tic-tac desgraçado, ritmando lágrimas e obrigações contratuais. Não sabia que estaria assim aos 30, mas é bom não estar tão pior aos 32, e de certa forma ainda me sinto criança. Deus nunca gostou de gente feito eu.
É a primeira vez em anos que vou passar o Natal em casa, em família, minha maravilhosa família que nunca ligou muito para a obrigação natalina. São os católicos menos católicos que conheci, e talvez por isso as ame tanto. Tínhamos tudo para nos odiarmos, fardo comum de quem cresceu na pobreza extrema, mas é nas nossas esquisitices e maneirismos próprios que construímos a perfeita definição de amor. E o amor concorda, se é que ele existe nos velhos termos culturais.
Não sinto falta dos meus ex-professores, mas sinto falta da velha disposição de aprender sozinho. Os últimos três anos me tiraram muito, mas é bom ver que estou me reconstruindo - caquinho por caquinho - até voltar a me sentir uma melhor versão de mim. Meu objetivo é permanecer em paz enquanto invento um lugar. 
A melhor parte da vida é não fazer sentido, é não ter propósito algum e sentir o vento fresco acariciando minha cara (diz-se em Berilo que o certo é rosto, que quem tem cara é cavalo, mas gostaria muito de ser um cavalo selvagem correndo solto e sentindo a brisa. Entende?).
Apesar de toda a tristeza e de as vezes ver sangue escorrendo, não gostaria de ser outra pessoa. Minha estranheza dispersa no fim das contas é o melhor de mim.

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