o aniversariante destrambelhado que não consegue sorrir em fotos

 

Meus bolos são sempre de mentirinha. Nunca imaginarei que viveria tanto. Nas imaginações mais otimistas de um jovem problemático, pensei que teria uma bala na cabeça antes dos vinte e sete. Aquela maldita cidade me fazia sentir uma aberração a ponto de me tornar incapaz de esperar uma melhora ou qualquer possibilidade que não fosse o fim. O curioso é que melhorei. E entre um tratamento e outro, uma queda no quintal e uma aventura no papel, aprendi a me divertir. E mesmo o peso que carrego agora, ele é bem distribuído em ombros fortes, estoicismo e venlafaxina. E não são meus dentes tortos, meu medo de serpentes, o pesadelo em que meus dentes caem da boca numa enxurrada de sangue, minhas dores de cunho emocional, minha mandíbula que cai, minha dificuldade em estabelecer relacionamentos amorosos, meu medo de perder o juízo, minhas dívidas, meu sobrepeso, meus transtornos mentais, meu pessimismo, essa melancolia cotidiana ou a falta de sorte que me assombram agora. O que me assombra de verdade é não saber o que fazer da vida daqui em diante, é achar que já deveria ter partido mesmo tendo desistido do desejo de partir, é não saber lidar com as coisas boas que tenho e o sem número de pessoas boas e inteligentes que me amam, nem com as expectativas que recaem sobre mim agora. E justo agora me entristeço, nesta mera data insignificante, justo agora em que consegui ter paz. Meus presentes são sempre detalhes, e são sempre os detalhes que mais valorizo.


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