Sinos mudos

Eu nunca conheci a sorte. Algo nos meus genes determinou que o acaso não me daria presentes. Nunca ganhei sorteio, loteria, nem frango em quermesse, mimo em rede social, rifa na escola e faculdade, evento do trabalho ou festa de formatura. Até teve uma vez em que tropecei numa pedra e ao cair ao chão encontrei 150 reais num envelope marrom e molhado, mas não acho que fui sortudo pois desde então o meu pé-do-tropeço dói e a vida veio me cobrar esse dinheiro em forma de transtorno mental. Lembro que quando menino fui uma pessoa pura, pura e besta; pura, besta e inocente. Sofria calado. Não reclamava de nada. Agora ainda que eu reclame as coisas são iguais dentro de mim. O lado de fora explode, o mundo derrete, meus amigos me amam mas não deixo de me sentir só. De me sentir preso e acuado pela vida. E isso também é que não tive sorte. Nasci aos pedaços e sem nenhum concerto.

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