saturno cinco e uma idiossincrasia
A
história humana é um flerte com a contradição. A política uma forma de
moralizarmos o que não tem um caráter moralizável, como a contradição inerente a
experiência humana. Um humano existe com defeitos, qualidades, limitações e fetiches
diversos. O maior facínora também foi capaz de amar, e talvez o mais benigno
dos homens nunca tenha se ajoelhado a deus – exemplo equivocado, mas
inalienável de humildade. Lembro sempre de Wernher Von Braun, que além de
principal engenheiro militar nazista foi talvez o maior cientista de foguetes
norte-americano, sendo nome essencial para a NASA levar o homem até a lua. O
senhor Von Braun se converteu evangélico, formou família, adotou o discurso das
boas virtudes conservadoras americanas e trabalhou para Walt Disney na idealização
do parque Tomorrowland original. Seus crimes foram relevados em nome dos
interesses ditos gerais, ou seja, Braun foi politicamente moralizado, lhe sendo
dada nova vida e identidade. Isso me faz pensar que a diferença entre um
criminoso e um cidadão é o quanto e como a política moralizou sem tom de pele e
sua utilidade. Pois é, essa tal de realidade é muito mais complexa do que as
redes sociais e suas ideologias maniqueístas te permitem ver. Nos permitem ver.
A realidade é tragédia e Cioran tinha razão. Se Moliére tivesse se concentrado
em seus abismos, Pascal – com o seu – teria parecido um jornalista. Se forem a Lua, visitem a cratera de Von Braun.

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