desarranjado


É imperativo, não consigo gostar de gente, assim, no plural. Gente sua, assoa, gente reclama, gente persegue, caçoa, bate, isola, gente machuca. Ainda menino senti o peso disso quando me tocaram de forma inapropriada. A humanidade não presta e isso não é novidade. Lembro de um idoso que me jogava pedras e fingia que era uma forma de brincar. Lembro das crianças me batendo por nada. Meus melhores amigos eram cachorros e gatos. Minha Mãe sempre foi fortaleza. Eu sou fraco, não por ter sido violado, mas por calar quando deveria ter socado, por consentir quando deveria ter machucado, enfim. Com o tempo a gente aprende, reprime, supera, fica adulta e sai mentindo sobre como essas coisas que conquistou são suficientes. Mas não são. Afeto nunca é o suficiente, dinheiro nunca é o suficiente, solidão nunca é suficiente. Minhas amigas fazem com que eu me sinta inquebrável, completo, uma máquina pronta de vida. Sou grato por isso. Porém, no fundo, sei que sou só uma peça solta de algo maior que nunca teve forma. Eu sou a peça quebrada, eu não quero ser gente, e de certa forma é bonito que eu consiga sorrir e querer ainda que seja assim. Chato. Gente não presta mas faço todo o possível para prestar, para não ser gente. para ser coisa. Coisas podem ser boas, pessoas eu duvido.

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