tudo o que sobra quando o que resta é nada
Esmurro as teclas do laptop como se narrasse meu próprio velório. Bebo da xícara de chá fria. Falo impropérios sobre deus e o amor. Desejo o sexo mais pitoresco e o sorriso de dentes claros. Por muitos anos desejei mulheres, cigarros, homens, tabaco, poesia e orquídeas coloridas em vasinhos delicados em forma de bichos. Sinto falta da minha tristeza, porto um cérebro desviante que teima - não há nada errado? então tudo está errado. Talvez tenha me tornado o erro, mas enquanto encosto a cabeça no travesseiro e conto estas telhas de barro que me cobrem, enquanto o sono não me desaba, sou feliz. Nesse exato momento que escrevo, estou feliz. No exato momento em que percebo ser nada, ter nada, nesse momento estou feliz. Pois nesse mundo horrível, nesta vida que levei e já foi tão horrível, nessa solidão horrível que em certas horas me bate, nesses momentos mais aflitos, em tudo isso eu percebo que não poderia ser nem um pouco diferente, e que já faço bem demais com o pouco que possuo. Os afetos que possuo, os amigos que possuo, a família que possuo, os animais do mundo, tudo isso é amor. Outro nada, mas estou feliz. Até quando?
Comentários
Postar um comentário