infelizmente eu nunca coube dentro de um refrigerador
o calor me persegue, quase como sombra, se é que sombra existe sem sol. lembro que desde menino em berilo é quente. quente como o norte de minas inteiro, o vale do jequitinhonha, os amores adolescentes que, as vezes queimam como brasa, outras vezes como água fervida. sei que não é digno de riso, mas me mudei para são joão evangelista fugido do quente e lá também, adivinha, morri de calor. cansado, magro e depressivo eu voltei para berilo, meu lar- declínio, e parecia que ainda mais quente ficou. depois fui embora para montes claros, sem uma nota sequer no bolso e com muitas intenções de universitário inocente, mas por lá, quem diria, o inferno me pareceu frio. meu karma é que, visse, e até a cama fica quente demais. no fim das contas, me formei e voltei para casa, quente. outra vez fui embora, me mudei para josé gonçalves de minas com fins de trabalhar - praticamente uma rua só, mas quente. por fim mais uma vez vim a berilo, e aqui estou, não obstante, passando calor - e já não aguento mais suar.
acho que o seu deus cristão me condenou ao inferno, de dante, aquele vadio, ainda que ele nem sequer exista. e se quisesse me matar agora, meu sonho, seria de frio. mas ainda que o deus existisse, uma criança mimada, guardião universal de tetas e cus, eu sou um herege e quero morar num freezer. como um cadáver de indigente, viver em um.

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