expectorante existencialista


Engulo a desfeita, engulo a tristeza, engulo a derrota, engulo o desespero, não vomito nada. Cresci assim, para dentro. Antes uma bomba relógio, hoje um abismo. A bomba explodiu, o café esfriou, a vida, monótona, continua. Aos 28, os mesmos planos de criança tonta. Mas e aos 40? E aos seiscentos e sessenta e seis? Engulo a expectativa, ignoro o relógio, vou perseguir um gafanhoto, contar uma anedota, me fingir de morto ou que tudo anda bem. Mas nada anda bem, o mundo não anda, e por mais que eu ande, aqui estou, o mesmo lugar. O mesmo céu. O mesmo trabalho. O mesmo horário no despertador. A mesma angústia sem motivo. A mesma desfeita, todos os dias, uma aberração. Eu não vomito nada. Meu pobre deus-diabo, preciso aprender a vomitar.

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