diário em letras minúsculas n°27
não faço um tipo tão normal e comum de pessoa, não nessa região pacata e rural. aqui eu sou ovelha negra, metido, desviante, mas ao mesmo tempo estou absurdamente distante de um rótulo de excêntrico, de uma persona nesse perfil. não tenho tatuagens (ainda, talvez), nem piercing, nem me visto de forma diferente, espalhafatosa, rasgada ou esquisita, não me maquio e posso facilmente me misturar na multidão e ser confundido com um tiozinho qualquer. mesmo assim algumas pessoas insistem que sou um tipo curioso, diferente, talvez pela falta de uma régua adequada para comparação, talvez seja um meio de provocar, sei lá. todas as intenções são misteriosas e um fato presente é que nunca fui paciente o suficiente para me focar por inteirio nos problemas da vida comum, seja os de busca por sexo ou coisas da igreja; e também fui preguiçoso demais para sair de casa e encontrar uma tribo ou grupo onde tentar me sentir parte atuante, do qual replicar as condutas, estética e objetivos materiais. eu quase sempre sempre estive sozinho e sempre fui o desindexado. tanto que até hoje o meu maior conforto está nos momentos em que consigo me sentir completamente invisível. acho bom ser nada, não ser notado, ser sempre o "de onde surgiu esse rapaz?". pois geralmente a resposta é de lugar algum, ao mesmo tempo em que surgi por aqui. eu gosto desta estranheza não tão estranha, dessa desconfiança norte-mineira, dessas contradições que compõem meu ethos e constituem essa bagunça que a literatura chama de eu. talvez sem isso eu fosse ainda menos comum, pois é isso que me faz simples demais. calado e pensante.

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