black birds and shit happens
A um tempo não amo mais ninguém, idealizo pessoas ou faço versos soltos ou tenho sonhos bobos sobre alguém que gostaria de conhecer. Verdade é que agora tenho um outro vazio imenso, como se faltasse uma dor familiar, culpa ou rejeição, qualquer uma das que sempre andaram comigo. E é estranho e doentio, como se fosse falta de acabar só, de andar meio doente ou bobo por algo que pudesse ver, já que não gosto disso de sentir tantas coisas que nem sei porque sentir. Só sei que as meninas, com seus sonhos, planos, tetas e risadas tão bonitas, essas eu quero livres. E os rapazes, pobres coitados, estes eu só quero que cresçam um pouco mais. Verdade é que amor é um nome besta que damos a várias coisas mecânicas, as vezes abstratas, na maior parte delas hormonais. Verdade é que esse vazio que carrego não é mais que um nome inventado, outra coisa boba para justificar solidão. E solidão, ainda que justificada, não passa de outro nome para todas as coisas que guardei para mim, pensando que assim viveria sozinho, só eu. Quando na verdade, mesmo entre beijos e corpos, entre goles e tragos, bissexualidade, romances, planos, sucessos, entre fracassos e companhias, todos estamos a sós e todos temos a nós mesmos. Mesmo que numa festa de pessoas sozinhas. E é o resto da vida, a parte entre o ontem e o amanhã, isso que conta, que se compartilha, é onde se pode viver. E é justamente por isso que não deveríamos sonhar com mais nada além do real, do que é constatável, tangível, profundo ou banal. E o real sobre nós mesmos é que não passamos de consciência, da possibilidade de nos localizar no tempo, no espaço e até nos olhos dos outros. Somos animais que sentem, e sentem tanto que penamos outro tanto até que consigamos pensar. Pensar para concluir que, pensando bem, ninguém morre sozinho, já que outras tantas consciências também flutuam por ai. Mas que também todos morrem sozinhos, pois por mais que se um dia dissemos qualquer coisa, o limite e a distância entre o que somos fez de tudo a necessidade de provar-se real, ainda que momentâneo. E é isso que esconde o meu vazio, um rio de momentos que só existiram em mim. Quase como uma construção pessoal, quase. Com meio e fim.

Comentários
Postar um comentário