coração moroso (e devagar)

meu sangue não circula, parou feito lago. diz a consciência que foi desde os dezesseis. talvez por isso me sinta torto, ora morto, ora mais feliz que criança besta quando vê algodão doce. verdade é que corre um rio em meu coração. mas não, não, mentira pois ele não corre, ele sofre de obstrução. e quando tentam abrir passagem, ah menina, é só desastre. e então eu vou desastroso, quase sempre pesaroso, colando os caquinhos das lições de vida que sobraram pra mim. eu vivo para tirar o pó, desatar o nó, bombear o sangue. eu finjo que não me importo, mas me importo tanto que até versinho triste vai parar no diário, que volta e meia divido com alguém, que volta e meia me exponho demais. é que de sonho eu sou só contador, e os causos, mesmo os privados, são os sucessos e pecados que sobraram de nós dois. ainda que dois sejam sempre mais. eu sei que eu falo demais, só quem sofre calado escuta o próprio silêncio que vem de dentro da multidão. e meu sangue não circula, apenas pulsa, como toda ferida que a gente abre só pra poder fechar depois. 

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