como os ombros pesam

Polly Nor - Devils and women

ninguém cultiva os próprios demônios, ainda assim eles te rasgam a carne enquanto engordam ano após ano. e eles moram nos olhares, nos beijos, na carne quente pulsando. eles moram na sua consciência, nos seus medos, até no amor que vez ou outra dá ou tem. por isso te sufocam, e ainda que lhes morda a cara e arranque a pele com os próprios dentes, no dia seguinte estarão ali, cicatrizados e com riso frouxo quase feito moças bem vestidas para o baile ou rapazes galantes com seus pés de bode. seus demônios contaminam seus versos, sua percepção de mundo, subvertem seus gostos e te vestem por completo, ora feito traje, ora é trapo velho. e os seus demônios te encarnam, te escancaram mas também são seu escárnio, e há de mordê-los e amordaçá-los tão forte que essa dor não seja mais sua. e quando fizer com que se acalmem, vai poder dormir. e quando acordar com o som do vento que fita o serrado, há de deixar que seus demônios durmam. pois a vida segue, companheiro, e com certos pesos, tal qual os demônios e seus desesperos, o que devemos fazer de bem feito é aprender a alimentar. já que fera bem alimentada não ataca, ainda que lhe reste muito a que atacar. a fera bem alimentada dorme bem mais.

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