vício

Não deveria tomar café depois das vinte horas. Não deveria me apegar a moças e paixões mais intranquilas do que eu. Deveria cuidar da saúde, organizar o tempo, treinar a escrita e dar basta ao coração. Ainda assim eu insisto, existo, puxo conversa, entro no assunto, leio o mundo e tento aprender com os outros o que há de errado comigo. E há de errado alguma coisa? Dizia o terapeuta: bem pouco. Diz a minha mãe: tenho orgulho. Dizem os amigos: gosto de você assim. E os amores, ah, esses sempre tiveram pena. E a pena é tanta que me afundei no café, na bebida, nos versos tristes e na coca-cola, que já dizem mais de mim que qualquer circo e ciranda de algum movimento social. Seria uma marca ou uma franquia? Talvez seja uma cópia mal feita de Drummond, Lispector, Hemingway, Hesse, Nietzsche, Bukowski, Russell, Thoreau ou Sagan. Muitos nomes, muitas cópias. Talvez seja psicólogo pra dar uma de Skinner, brincar com choques, fazer correr na roda os ratinhos. Só que o rato sou eu, a roda é a vida e a água é pouca. Comportamento operante? Eu vivo em privação. E é tanta que o pó de café também acabou. Então conto os centavos e vou rir sozinho. Que é outro dos meus vícios; que só parecem karma para quem nunca viu. E se viu, só eu, mais nada. Novidades nunca mais, ou diria sempre? Quem me dera ter algum controle.

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