simpósio infantilizado das minhas bobagens mais bestas
Gosto de imaginar um ponto de encontro em que as histórias e os afetos de estranhos entram num tipo de embate simbólico e que seus resultados resvalam no mundo real e, talvez por isso, não precisemos de muito tempo para amarmos ou odiarmos um grupo de pessoas. As vezes é automático, como se por um cheiro que ninguém sente mas está ai, no ar. É o máximo que consigo conceber como magia, uma magia de uma criança cética e obcecada em catalogar os grãos da vida.
Nasci num mundo que não existe mais. Brinquei com pedra, barro, carrinhos de madeira e peões, mas também ouvi Grunge, Hard Rock e New Metal. Aluguei um sem número de vitas VHS, foi num desses enganos em que o que era para ser um OVA de Saint Seyia se revelou mera pornografia. O tipo de supresa inconveniente que se repetiu nos 20 anos posteriores a ela, talvez por isso faça tão pouco juízo moral do desejo e da culpa.
Vi meus CD's, K7's e DVD's desaparecendo até só restar arquivos em .mpeg e .mp3, dos quais hoje me arrependo de ter deletado. Nunca mais encontrei blues jamaicano com temática satanista, nem mesmo um curta indie de suecas nuas correndo atrás de uma piñata que ganhou vida. Meu cérebro é uma bagunça, eu sei, isso me cativa e também me maltrata.
Não sei se não ter lugar no mundo é realmente um karma geracional, um sintoma de neuroatipia congênita ou mera falta de fé nas coisas. Porém meu ceticismo obsessivo nunca careceu de uma imaginação infantil para todas as coisas grandes e as bobas. Talvez o motivo do amor nunca ter me sorrido de volta. O amor simples que cultivo e buscava não tem lugar nesse mundo de amores simbólicos cheios de adjetivos, planos e frustrações mal planejadas. Já tomo remédios demais sozinho.
Gosto de imaginar um lugar em que todas as minhas memórias, as boas coisas que sinto, as pessoas que amo e as minhas cachorras viverão eternamente, ainda que um eterno que desaparecerá junto do meu corpo. Mas o que é eternidade que não um conceito egoísta inventado para nos convencer de que se as coisas que só são importantes a nós mesmos escaparem a vista, então elas não tem fim e por isso se sobrepõem sobre todas as outras? Enfim, talvez eu seja egoísta. Um egoísmo ético e infantil, um tipo de teste projetivo planejado nos porões de um Studio Ghibli por um misantropo egresso de pornochanchadas da Boca do Lixo.
Eu sou esse abismo sorrindo, eu sou esse abismo que chora. E apesar de toda essa dor que sinto, obrigado a quem sempre sorriu de volta. Um monstro só pode ser monstro quando outros monstrinhos o convidam para brincar. E eu brinco muito além do simbolicamente.
Comentários
Postar um comentário