abro o jornal: deus encontrado morto sobre a maquete de um torto corcovado


Hoje é sexta-feira e não tenho nada para sentir. Comi o que tinha, bebi o que pude e escrevi como posso. Não sei o que mais me maltrata, ter nascido sul-americano ou essa falta crônica de esperança, esse presságio constante de maldizer. Cresci assistindo as flores que plantei morrendo uma a uma num solo que o tempo não torna mais fértil, ainda que eu adube com as versões de mim que matei e regue sempre com lágrimas, essa água fresca que brota do "eu". Tenho sempre ao meu lado o café mais amargo e as piadas mais inadequadas para toda e qualquer ocasião, e nem mesmo quem mais me conhece pode prever se vai vir uma queda ou uma gargalhada. Hei de parodiar a vida agora e sempre, hei de ignorar desgraçar e prometer mentiras até que tudo pareça bem, ainda que só para os cães e os gatos. Seguirei sendo e só.

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