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Mas que coisa idiota essa festa de morte sobre a coisa em que somos jogados contra a vontade. Mas também que delícia foram todos os bolos, os risos, os salgados e aqueles carrinhos de plástico que me fizeram tão feliz. Por muitos anos a tristeza fez com que me esquecesse do quanto sorri ali no meu mundo solitário de brincadeiras elaboradas demais para a idade. Eu fui feliz apesar de tudo e eu sou feliz quando invento a possibilidade, apesar dos entraves. Dizem que estou na idade de Cristo, mas ainda não me sinto tão diferente da criança nas fotos antigas em álbuns que minha Vó esconde. Nesse tempo todo não consegui retirar nenhuma das pedras atravancando meu caminho, e talvez leve essa vida inteira cansado de tanto tropeçar, mas nas mais redondinhas eu desenho um rostinho, invento um nome e teimo a conversar de boca, já que nunca fui muito bom com gostar de gente ainda que sempre tenha amado demais quem não me tratou feito coisa. E esse lado eu ei de preservar, sei lá, feliz aniversário para mim e a quem mais se importe. A vida é isso, não esperem nada, apesar da idade eu ainda gosto de carrinhos e coisas de papel. O tempo não se cansa de bater mas de tanto apanhar já nem sinto tanta dor, nada que as drogas e as gargalhadas não façam vista. Nada que eu não esqueça em cada uma das mil distrações diárias com os formatos de nuvens, os insetos na janela e algumas dancinhas ridículas que teimo em inventar. Sou criança velha desde que nasci.

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