pequeno poema sobre ir
Partirei sorrateiro,
mesmo que entre patas e pelos
não me restem trocados e
nenhuma solicitude,
doravante sou só.
E assim que virar a Ouvidor
não me restará mais nada,
nem teu seio farto e mole,
nem os lábios da morena mais doce
ou aquele tango estranho em que
só dançam dois homens.
Não sairei do lugar,
ainda assim conquistarei o
mundo com mentiras e
serei o padre que D’us
nenhum há de querer.
E levarei mil coices no meu
velho embornal surrado
daquelas coisas que me disse
- Zé, vá a feira!
- Zé se ajeite, que nem parece gente!
- Zé, não te gosto!
E nem eu mesmo hei de gostar,
já que só faço garranchos tristes e
e sou eu mesmo um entrincheirado.
Marrom-pálido,
besta desastrada que não sai do quarto
mas sabe que sabe sobre quem conquista
o mundo pela lei do vintém.
Caí de amor e agora sou pássaro,
cicatrizado por lamúria e unguentos,
e vou embora sem nem poder voar.
Hei de dormir o sono dos precoces e rir
de mil e uma caras que não me sorriram assim,
feito cachorro bem tratado que ganha um osso.
Vou comprar corpo e virar gente,
pedaço de ser azul com jeitinho meigo
e conquistador que compense o salário.
Serei pago em moeda, não em obrigados.
Vai ser bom, mas vai ser ruim.

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