sobre se sentir um tanto quanto vivo

 

Quando fecho os olhos posso escutar o som da chuva ainda que não chova há semanas. Quando vejo uma flor posso imaginar o seu cheiro ainda que já não sinta os odores tão bem. A vida me tirou muitas coisas, mas também surgiram outras em seu lugar. Nada equivalentes, admito, mas uma coisa vem quando outra vai ainda é algo positivo. Hoje todas essas bandas e artistas que passei anos decorando os nomes dos discos ou livros também são meus amigos. Hoje eu sei que não ter conserto não implica necessariamente em continuar quebrado, quase sempre dá para remendar. E muito raramente quando fecho os olhos consigo imaginar uma vida melhor. Hoje sou 95% do tempo triste, mas já fui 110, 220, talvez até 1000 e contrariando totalmente o uso adequado das estatísticas. Um dia desses até inventei um número entre uma tristeza e outra. E cada livro que releio tem me contado outra história que não precisa ser nova, apenas de um ângulo diferente. Envelhecer tem sido saber que existe um outro mundo além de tristeza, mesmo que eu não veja, existe outro lugar e outro estado de consciência. Apesar do desastre, eu ainda quero estar aqui.

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