e no final do mundo um homem viveu nu

 

"Saturn Devouring His Son", 1819 - Francisco de Goya.

Um pobre coitado cresceu entre estrias e fomes. Sua guerra pessoal foi vencer o próximo livro. As estantes cheias sempre foram seu encanto, mas o dinheiro sempre foi seu impeditivo para completar suas coleções. Sua trilha sonora pessoal era uma música jamais composta chamada Debora’s Song #1. Seu disco favorito ora era do Frank Zappa ora era Cartola ou Ramones, era um dos poucos homens que da música se recordava e ainda podia tocá-la em um aparelho empoeirado que sequer sabia o nome. Pareceu até uma autobiografia, mas Pedro não era um personagem típico mesmo antes do fim do mundo. Sobreviveu a peste pela força do hábito, não saia de casa, não falava com os vizinhos, não colecionava amantes ou namoradas, tinha seis gatos e seus debates se limitavam a eles. Um dia qualquer ouviu no rádio uma promessa de dia ensolarado, olhou pela janela e uma bela figura feminina se formava entre as ruínas. Cada passo de Nimeia pareceu uma dança. Eu, ciumento e desastrado, assistia tudo de longe feito narrador impessoal. Uma luz para um perdido, murmurei em silêncio. Mas Pedro morreu dormindo três dias depois.

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