carta para uma filhote que partiu
A vida é mesmo fria e ingrata. Ainda hoje seu focinho gelado me cheirava e eu reclamava das mordidas e de como derrubava a ração pela casa e agia como se os grãos fossem brinquedos multicoloridos. Ainda hoje eu senti sua boca com cheiro de leite, seu pelo macio e olhei esses olhinhos escuros e redondos. Parece mentira, estou até agora meio perdido de quando te encontrei sem vida no quintal. Não sei se sofreu, mas sei que queria que tivesse vivido o suficiente para eu te arrumar um lar, igual ou melhor que este, onde pudesse correr sem um humano adulto paranoico vigiando cada passo. Enfim, não vigiei o suficiente, acho, e isso que sinto no peito agora, esse aperto, é como se perdesse um filho. Uma filha, você mal teve um nome, por isso Julia Kalishnikova, eu prometo não te esquecer. Prometo que aqui dentro esse coração quebrado e esquisito você vai ser eterna pelo menos enquanto eu dure. Eu amei você e eu sinto muito que não possa mais brincar.

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