as cores
Minha metáfora favorita é sobre não enxergar cores. Desde adolescente eu enxergo a realidade em infinitos tons de cinza. Não sei se foram os abusos, a depressão ou somente inteligência sem mecenas, mas muito cedo deixei de enxergar heróis e vilões, santos e demônios, salvadores e iluminados e seus afins. Tudo que enxergo é humano, esse animal incrivelmente complexo e na mesma medida patético o suficiente para viver mergulhado em ficção ruim, de joelhos e implorando aos céus como se nuvens pudessem lhes escutar. A verdade é que ir colorindo os afetos, amizades, amores, desejos e interesses sempre foi um esforço hercúleo, porém necessário, mas que nem sempre trouxe algum resultado. E agora, na medida em que os anos avançam vão faltando outras cores que também não sejam cinza. Pensava que era a mente adoecendo, até perceber que é mais simples, usei a Navalha de Occam, é somente a humanidade sendo humanidade e as aparências que não mudam enquanto a gente cada vez mais se aprofunda em tudo. Pelo menos eu. Enfim, pelas minhas contas o fundo do poço tem oitenta e sete andares. Eu já conheço mais da metade.

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