o eu é um péssimo roteiro de ficção


A psicologia costuma mergulhar no erro de avaliar o mundo pelos olhos de ideias internalistas ou de avaliar a metafísica humana pelos olhos de ideias externalistas. Talvez por contaminação do maniqueísmo cristão, estamos sempre desesperados em atribuir o valor de bem e mal a alguma coisa. A grande verdade é que a realidade é cinza, infinitos tons de cinza e bem e mal são construtos quase abstratos cravados nos lados de uma moeda que os dedutivistas jogam para cima tentando compreender o ser humano apelando a sorte. Ninguém deveria contar com a sorte. Nem o senso comum e muito menos a academia. Talvez nem devessemos contar com nada que fugisse ao espectro da nossa visão. Só podemos contar com pessoas, ou melhor, com o que as pessoas nos dizem, confiando que a verdade seja um compromisso geral, mas quase sempre não é. Por isso a psicologia das coisas deve ser soberana a psicologia dos "eus", pois o eu não é menos que uma narrativa ficcional conveniente mediante a nossa própria percepção de tudo, enquanto as coisas exigem consenso, análise, nomeação e função. O "eu verdadeiro" diz muito menos sobre alguém do que uma cadeira diz sobre um objeto de madeira que criamos e usamos para sentar. Deixando a arrogância de lado, nós, pessoas, macacos pelados prepotentes e ególatras, nós também somos coisas mais simples do que desejamos e mais complexas do que nossas crenças podem conceber. E se apelarmos aos simbolismos, um psicólogo não é muito mais que um carpinteiro de transtornos mentais, cada um tentando consertar um tipo bem específico de cadeiras. Para isso, a "cadeira de verdade" muito pouco importa.

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