ao meu querido deus nuvem


Nem que fosse por um instante, gostaria de ser nuvem. Ter mil e uma formas em contato com o vento, me desmanchar em chuva e depois nascer de novo em outro lugar. Queria passar lento como passam o tempo, o vento, que ainda que efêmeros marcam um lugar. Talvez por isso eu admire nuvens bonitas, claras ou escuras, padrões cientificamente descritos ou um pouco diferentes. Uma nuvem é sempre uma nuvem, mas também pode ser várias e várias podem ser uma, quase como essas tantas personas de nossa psiqué. E talvez assim pudesse percorrer os espaços, e ainda que não senciente, observar os pastos, molhar os corpos, me refazer em dias quentes e desmanchar-me em dias frios. Fazer crescer e brotar os verdes. Compor cinzento o cenário ideal para as grandes obras de melancolia. O simples hábito da natureza, esse único, verdadeiro e possível exercício espiritual. É isso, sempre foi isso, queria ser nuvem onde deus não atrapalha.

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