identidade de um nada ou quem seria
Lembro até hoje quando disseram que eu acabaria sozinho pois era esquisito e triste. Lembro daquelas palavras me cortando feito faca e me fazendo fugir dos espelhos por mais de duas semanas. Eu não queria permanecer em mim. Foi meu primeiro amor
Lembro quando disseram que eu não era homem, que meu problema era pensar e respeitar demais. Essa parte eu nunca entendi a bem da verdade, mas doeu da mesma forma. Foi meu sexto grande amor e lembro do quanto meu coração parecia seco e incomoda até hoje.
Eu lembro de quase todas as coisas, cores, sabores, sensações. Sei dizer a primeira vez que chorei consciente e a última vez que sorri para uma estranha. E posso citar nominalmente todas as vezes em que me disseram que morreria só.
E eu agradeço, agora.
Graças a isso eu aprendi a ser só, caso um dia a profecia se realize. Graças a isso aprendi a criar laços que durem mesmo que não haja beijos ou coitos. Laços que não exigem forma ou conduta, apenas são. Graças a isso sei que não quero ser homem, mulher, cidadão de bem ou qualquer coisa que esperem de mim, eu só quero ser, assim, mesmo que esquisito, minhas circunstâncias e consequências.
Assim eu posso até estar só, mas nunca estou completamente sozinho. Eu posso até estar calado e distante, mas nunca a deriva. E eu posso até estar calado, absorto em minhas coisas e consciência de autista leve, mas nunca esqueço quem amo, quem estendeu a mão ou quem deu aquele tapa necessário de amigo. Eu posso estar só e ser esquisito, mas não, essa forma inenarrável e senciente chamada "eu", essa força que cai, sangra e levanta, esses traços tortos, versos dramáticos, esse amor por tudo que é belo e material e essa nobreza quase infantil, elas sempre estão aqui e tudo que me vem delas faz desse homem o invólucro mais feliz. Solidão é um mero detalhe.
Espero me lembrar para sempre de quando avisaram de como eu acabaria, esquisito e triste, tenho todas as coisas do mundo, e todas derivam do "eu".
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