o deus dos autistas

A vida é complexa quando não nascemos na mediana. A felicidade, o amor, o tempo, tudo reside na medianidade. E os médios, ainda que ébrios e patéticos, tem o mundo em suas mãos - enquanto os atípicos, mesmo quando sóbrios, altivos e inteligentes, são relegados a lutar contra as migalhas com que os medianos tentam nos limitar. A luta de classes, incrível fixação marxista, ela reside na curva de normalidade. E o tal Deus é nosso maior vilão. Então ainda que me esforce, me ajoelhe, ore, me sacrifique, vista roupa bonita, tome três banhos por dia, ainda que eu me depile, faça promessa, dê esmola a mendigo, minta a uma namorada, tenha as melhores notas da escola, seja bom filho, siga as recomendações psiquiátricas, e ainda que eu seja, faça, diga, pense, falta algo, há de sempre faltar. O Deus é mediano mas eu não.