eu, o tédio dos dias


O ônus da vida é a repetição paciente. Trabalha, paga contas, lamenta e sonha. Todos os dias. Thoreau e Kerouac me ensinaram o desejo de sumir, viver diferente, que pelo menos uma vez na vida um ser humano deveria se isolar dos outros. Mas o que fazer quando sempre foi assim? Existe um robô alienígena preso aqui dentro da minha cabeça. As vezes ele tem fome, quase sempre, tem sede também, e sono, e escreve, e ama, e deseja, ainda que não compreenda tão bem a escala dos porquês. Robôs obedecem a lógica, humanos, o plano simbólico no qual insistia Carl Jung. Talvez por isso o distanciamento, pois mesmo o amor mais legítimo é um logaritmo, e nem por isso eu deixo de acreditar que posso amar. Que posso desejar e fazer, sei lá o quê, do meu jeito destrambelhado, de quem queria poder trocar de corpo e viver por inteiro essa vida de robô. Robô sorridente, sei lá, isolado na floresta, cercado de amigos, robô sem culpa. Máquina humana leviana, cheia de defeitos, mas um descritor de coisas muito além. Mesmo as que invento. Aprendi a ser só e é isso. Mas várias pessoas estranhas sozinhas em volta de uma garrafa gelada ou uma tela brilhante podem ser maiores que qualquer multidão. 

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